27.6.06

protetor ou o sábio poderoso

Seu nariz era perfeito. Fino, imponente, arrebitado.
Sua pele tão clara e macia...
Sua voz pausada e explicada, elegante;
De inteligência excepcional, gostava de ler - lia praticamente todos os dias.
Gostava de rádio, gostava mais ainda de informação.De praxe, ouvia a Hora do Brasil e a CBN.
Revistas, livros, jornais, lidos e arrumados com atenção.
Cheiroso. Cheiro do qual me lembro até hoje.
A roupa tinha que estar bem passada e os cabelos finos e lisos, bem penteados.
Apreciava a boa culinária; comia devagar, degustando o sabor calmamente..
Era responsável como ninguém, pontual.
Ensinou-me a gostar de bons livros e sempre me incentivou a ler.
Isso sim, é saudade.

19.6.06

Passaqui

Vem, corre, vem.
Pra cá, onde os horizontes podem ser tocados; faz daqui tua casa.
Nesse lugar tão familiar.Nesse lugar onde a vida não desata nem desafina.
Onde os sonhos vendidos nas padarias são os mais doces, e nas bancas os jornais anunciam alvíssaras.
Onde você pode mudar os tons, das cores e dos sons.
Onde você cria seu palco, muda, transforma os antagonistas em protagonistas.
Aqui, se você procurar bem, também se acha potes d´ouro nos fins dos arco-íris, e os sorrisos são os mais sinceros.Aliás, a verdade é o passaporte pra esse lugar.
Nas prateleiras, pode-se guardar e organizar as lembranças. Nas paredes, fotografias vivas. Nas rádios, a paz em ondas.
e nos rostos, a certeza de que não há melhor porto para ancorar.
Vem, mas vem logo, porque eu já estou cansada de viver aqui sozinha.




*com gostinho de idéia tida agora.

12.6.06

A informação maquilada

“Ah! Vamos ser jornalistas, vamos ser imparciais e narrar a realidade como ela se apresenta.”
É utópico, mas continua sendo bonito. E, atualmente, é ingênuo.
A idéia de que o jornalista sempre vai retratar a realidade está desmistificando-se.
Com o uso das “matérias pagas”, a verdade parece ser manipulável. Esse tipo de matéria, encomendadas por empresas (geralmente possuem um cunho comercial implícito), visam alcançar muito mais interesses específicos do que oferecer alguma utilidade pública para os leitores, e acabam funcionando como um anúncio all-type na mente do leitor desavisado. Nela, a informação apresenta-se mascarada, não como objetivo de informar, mas de com argumentos lógicos, persuadir o leitor a acreditar na “verdade” que está sendo dita.
Já aprendemos que o jornal é uma empresa e que ele atende às necessidades capitalistas, visa o lucro, da mesma forma que a publicidade. Mas parece inadmissível a idéia de manipular a verdade. Além de antiético, não se pode dar credibilidade a esse tipo de “informação sintética”, que elogia demasiadamente um órgão ou empresa.
Muitas vezes essas matérias vem incrementadas com fotos super produzidas, uma chamada interessante, e por todo o texto, vai se tecendo e enaltecendo os benefícios de tal empresa. O supérfluo em primeiro plano, os fait-divers banais tomando o lugar de notícias de interesse coletivo.
A ANJ (Associação Nacional dos Jornais) condena essa prática de venda de reportagens em seu código de ética, e pede que "diferencie-se, de forma identificável pelos leitores, material editorial e material publicitário". Mas é com um punhado de hipocrisia e uma boa cara de pau, que a maioria dos jornais além de vender espaços para matérias pagas, não deixam claro que é um material publicitário, pois ao repassar dados em forma de notícia, estas informações ganham mais credibilidade e veracidade.
Não que não seja honesto, mas acaba iludindo o leitor, que pensa e acredita que o jornalismo é o retrato fiel dos acontecimentos.
Afinal de contas, a publicidade já existe para fazer este papel de “omissão” da realidade, de recriar conceitos e mudar pontos de vista.
Cuidado com o que estão ingerindo, nobres leitores.
Fica a pergunta... Você acredita em tudo que lê?


(artigo de minha autoria, para o jornal Alvíssaras)

11.6.06

palavras


Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
de "O Guardador de Águas"


I

Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

Manoel de Barros

4.6.06

onde andam as células brancas?

um vírus instalou-se no sistema.
que agora corre débil, febril.
sem força para processar idéias..

respira. inspira. espirra.
respira. inspira. espirra.
respira. inspira. espirra.

como num cronograma, o dia passa assim
respira. inspira. espirra.

vitamina c, expectorante.
e a temperatura sobe, desenfreadamente.
queimou os circuitos.
descofiguração de sistema.

por favor, reiniciar.

FOOD FOR THOUGHT

Although you may not stumble across a Martian in the garden, you might stumble across yourself. The day that happens, you´ll probably also scream a
little.And that will be perfectly allright because it´s not every day you realise you are a living planet dweller on a little island in the universe. (Jostein
Gaarder- The Solitaire Mystery)