27.8.06

"então tudo acaba em silêncio e em poesia"

Ele acaba quando há poucos risos, quando há mais discussões e quando não restam soluções.
Vai acabando aos poucos, nos cacos jogados embaixo do tapete, como poeira escondida e nunca jogada fora.
Vai se perdendo quando não há mais surpresas, e tudo parece um roteiro, premeditado.
Quando o singular fala mais alto que o plural, e brigas são colecionadas como roupas num varal.
Quando "isto é meu, e isto é seu" e o que era nosso, não existe mais.
Quando tudo já foi descoberto e então, começa-se a esconder muito.
Quando as vozes ficam mais altas, quando o doce fica amargo, e quando os olhos, em vez de brilharem, choram. Quando o telefone toca e ninguém atende, quando se fala e ninguém responde.
Acaba em qualquer lugar, em rostos tristes pelos cantos, em olhares que não se procuram mais. Acaba em cada detalhe que quer se apagar e no coração que teima em doer.
Acaba em ecos.
Acaba em gestos.
Acaba em lágrima.
Em adeus.

-pulsa a repulsa, e paga a conta, que estava inclusa.

18.8.06

admirável mundo novo

"Aterrado o senso de propriedade,
Pois que já não era o mesmo indivíduo,
Duplo nome de uma só natureza,
Que não se chamava dois nem um.
E depois ficou confusa a razão
Vendo aumentar em si a divisão"
(The Phoenix and the Turtle, William Shaekespeare)


Eles medem tudo, casas, roupas, palavras e até sentimentos. Metrificados, medidos e comedidos. Superficiais como uma mão mal passada de tinta. Admirável mundo novo, o que está acontecendo com o ser humano, que antes era humano, demasiado humano, e hoje, nao consegue ao menos, ser humano?

11.8.06

sobre encontros, reencontros e desencontros.

O gráfico de sua vida estava constante. Havia fechado um muro ao redor de si, e ali, criado um mundo, uma redoma de onde não costumava sair.
Foi quando surpreendeu-se. "A gente marca". O duplo sentindo, o tic tac.
"Se te ensinei que há hora e lugar pra decidir... e depois, com os conselhos que te dei ontem, aqui ou amanhã, a qualquer momento"
Engraçado algumas coisas que acontecem. Parece moda.. entra em moda, cai de moda.
E o que não se sabe explicar? E o que não se consegue entender? E não sai uma palavra.
Ai ela vai pro quarto. Tá afim de escutar a voz esganiçada de John Lennon cantando Im the walrus. Escuta, pula pra bicho de sete cabeças, e fica, olhando para o teto...
Pega papel e lápis e começa a rabiscar algum sentimento biográfico que vai surgindo... Ela acha que esses são os melhores momentos para se escrever.
E fica escutando música, o que sempre acalma a alma...até o sono chegar.
Se encontra, reecontra e se desencontra tantas vezes...
bocejos

1.8.06

teatro mágico

Sintaxe à vontade
(Fernando Anitelli)
"Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
Bem vindo ao teatro mágico!
sintaxe a vontade...
"Sem horas e sem dores
Respeitável público pagão
a partir de sempre toda cura pertence a nós
toda resposta e dúvida
todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
todo verbo é livre para ser direto ou indireto
nenhum predicado será prejudicado
nem tampouco a vírgula, nem a crase nem a frase e ponto final!
afinal, a má gramática da vida nos põe entre pausas, entre vírgulas
e estar entre vírgulas é aposto
e eu aposto o oposto que vou cativar a todos sendo apenas um sujeito simples
um sujeito e sua oração
sua pressa e sua prece
que a regência da paz sirva a todos nós... cegos ou não
que enxerguemos o fato de termos acessórios para nossa oração
separados ou adjuntos, nominais ou não
façamos parte do contexto da crônicae de todas as capas de edição especial
sejamos também o anúncio da contra-capa
mas ser a capa e ser contra-capa
é a beleza da contradição
é negar a si mesmo
e negar a si mesmo
é muitas vezes, encontrar-se com Deus
com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse encontro que acontece agora
cada um possa se encontrar no outro
até porque...
tem horas que a gente se pergunta...
por que é que não se junta
tudo numa coisa só?

FOOD FOR THOUGHT

Although you may not stumble across a Martian in the garden, you might stumble across yourself. The day that happens, you´ll probably also scream a
little.And that will be perfectly allright because it´s not every day you realise you are a living planet dweller on a little island in the universe. (Jostein
Gaarder- The Solitaire Mystery)