27.4.06

tenaz feito um passarinho

Em meio a um aneurisma de idéias, encontro isto. Uma paráfrase de um poema de Drummond "Canto ao homem do povo, Charlie Chaplin" feito por Sidney Frattini.
Belo, demasiado belo.
Falando nisso, sou fã do gauche na vida, do anjo torto, como ele mesmo dizia, Drummond.



Canto ao Homem do Povo, Drummond
I
(Não) Era preciso que, nem poeta, nem maior, porém um tanto exposto à galhofa, girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver como na poética e essencial atmosfera de sonhos translúcidos.
Era preciso que este pequeno cantor mudo, de ritmos inexistentes, vindo de lugar-nenhum, onde nem nunca se usa gravata, e raro alguém é polido, e a opressão é desestranha, e o heroísmo se banha, também, em ironia, era preciso que atual velho vinte-e-tantos-tombos, preso à tua "gauchice" por filamentos de ternura e vida, viesse ousar falar-te e, fruto imaturo, te visitasse para dizer-te alguns nadas, sobcolor de despoema.
Para dizer-te como os nós te amamos e que nisso, como em nada mais, nossa gente não se parece com qualquer gente do mundo - exclusive os que perderam bondes e esperanças, e voltam pálidos para casa, e cujos corpos transigem na confluência do amor, iludindo a brutalidade e a brutal idade, e que, secretamente, pronunciam tuas palavras de vida e sonho.
Bem sei que o discurso, acalanto freguês, não te esmorece, e esta tua vivência é tua entrevista aos hebdomadários. Não é a saudação dos entusiasmados que te ofereço. Eles existem, mas é a de gente comum em mundo incomum.
Nem faço muita questão da anti-matéria de meu canto, tão abaixo de ti, como uma letra mal sucedida, mandada por vida real ao escritor de todas as cartilhas.
Falam por mim sei quantos, sujos de inexpressåo e gente, levados a refletir, ainda que microssegundo, que te percorreram papel adentro e, em meio ao Palácio das Jóias, descobriram anéis que lhes serviam e se sentiram imensamente ricos.
Falam por mim os que simplesmente simples de coração nunca ouviram falar de ti, ou si, a não ser por adjetivos e nunca por eles mesmos, líricos ou cismarentos, irresponsáveis ou patéticos, cariciosos ou loucos, e os que não chegam a ser nada disso.
II
A noite dissolve os homens, e não te apaga, não, a visão.
A noite é mortal, mas já não o és, mesmo despido de fardões que não te caem bem, deselegante predestinado, condenado à Eternidade, independente de certidões.
Assim, perdida a sábia infância, acumulas a noite na calvície plena e adquires a dimensão do grande e o pedaço vital da trajetória.
E te fazes em frases.
E então sentimos a noite.
Não como trevas, mas como fonte natural de nostalgia e brisa, como se ao contato da tua mensagem voltássemos ao país secreto onde dormem meninos ambiciosos de soltar coisas ocultas no peito.
III
Vazio de sugestões alimentícias, matas a fome dos que foram (ou não) chamados à ceia celeste ou industrial. E notas na toalha da mesa, em plena janta, impurezas no branco - lição de coisas que a vida te ensinou.
IV
E agora, Carlos? Não sossegues.
Teus ombros suportam o mundo, embora tenhas apenas duas mãos e a poesia seja, definitivamente, incomunicável, teu verso é nossa consolação e cachaça.
Oitenta por cento de ferro nas almas e brejo e vontade de amar doem, e o tempo é matéria, definitivamente.
V
Fazendeiro aéreo, habilitado para a noite, carregas no bolso viola eternamente encordoada. És apenas um homem e teu presente inunda nossa vida inteira.
VI
No meio do caminho tinha uma retina que enxergava a pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento.
A pedra que ontem não vi hoje seria avalanche.
Ela repousa na vida, sem esconderijo, enxergada.
No meio do caminho tinha uma retina.
VII
E, ao contrário do que dizes, todos os meninos saltam de tua vida, a restaurar as suas.
Suspeitaste o velho em ti? Sabe o sábio que és, com tuas rugas e tua calva.
Foi bom que te expusésses: meditavas e meditávamos.
E tudo dizias... (ó palavras gastas, entretanto salvas, ditas de novo).
Poder de mais-que-humana voz, inventando novos caminhos, dando sopro aos exaustos; dignidade digna, amor profundo, crispação de ser humano, árvore firme ante desastres ecológicos, ó Carlos, meu e nosso amigo, tua vida e poesia FABRICAM a estrada de pó e esperança.

Sidney Frattini

23.4.06

Pingos de lágrimas

Sua mente sempre está acelerada. Aditivada. Antes de dormir, as idéias de confundem, vem e vão, se embaralham, criando uma miscelânea infinita de possibilidades. Amanhece e a rotina se repete, os mesmos lugares, as mesmas pessoas, as mesmas conversas. Então chove. Vento frio, tempo cinza.E a água parece varrer as coisas ruins. Ela observa as gotinhas pelo vidro da janela, desfocando, pontilhando a imagem, criando um quebra-cabeça lúdico.
E parece que ao chover, tudo muda...os assuntos, os programas. Tudo fica mais aconchegante, mais subjetivo, e parece que momentaneamente, sai-se da rotina. Veste uma roupa mais agasalhada, toma um café com leite quentinho. Tudo fica mais paciente, mais slowotion.E mente que corria, hiberna.
1,2,3,4...
E na sequência, ela olha para o infinito. Aonde dá o horizonte? Lá, as pessoas podem chover?
E acorda, pois o inverno acabou.



[interferências]

(re)sentimentos. sensações que eternas ou etéreas? (re)surgem, repetidas vezes, fazendo-nos refletir, (re)pensar...percepção (pré)fixada. aliterações de pensamentos, sinestesias léxicas, estribilhos apenas.

20.4.06

Qual o quê dos quais e porquês?

E num dado momento da aula ela disse: a idiossincrasia das coisas...
Então apareceu a tal da "Idiossincrasia" que foi a paixão lexical à primeira vista.
Sucinta, objetiva, direta.Dissequei-a.


Do grego idiosygkrasía (ídios, próprio + sýkrasis, constituição, temperamento)
idiossincrasia, s.f.
reação individual própria e típica a cada pessoa;
temperamento peculiar de cada indivíduo;
disposição do temperamento de um indivíduo, em virtude da qual cada indivíduo representa de uma maneira que lhe é própria as influências dos diversos agentes.
Pessoal e nesse sentido, subjetiva.
[adicionando elementos ao caldeirão da sopa de letrinhas]
Elas duas eram tesouros... irmãs-ímã, ou íma-de-irmãs. ou simplesmente, í(r)mãs.
Abraçáveis, beijáveis, choráveis, amáveis.
Para me salvar, me encorajar, ou (só)rrir.
-amargura lépida do tempo.correria pro mesmo lugar.sem título, subtítulo ou tecla sap.

O imperativo de Hermes


Corre. Desprende-te dos teus medos e corre. Ziguezagueia entre os altos e baixos mas corre; da velhice; do desespero. Corre...corre...corra! Corra do reflexo visto inadvertidamente no espelho, corra do insólito, do inodoro, do incolor e do indolor. Corra de si mesmo, corra contra a correnteza. Corra! Corra! Corre...escorre, escarra, escora. E corra novamente, corra com a semente, corra contra a frenética...mente; corra no escuro, corra para a paz. Corra na rua coberta de ácido e para as janelas dos olhares indiscretos e invasivos. Corra contra o fluxo infinito de palavras. Corra e sue, e libere o que te aprisiona....


- deixar a vida correr leve como aqueles saquinhos que sempre voam pela rua, calmos na sua dança cheia de poética, também pode ser uma alternativa. 350 km/h x dexa a vida me levar.


-Pra não se perder por ai, posto aqui:

"Você é uma serpentina colorida
De vermelho na boca e preto no olhar
Que alguém jogou, no carnaval da vida,
pra eu pegar"
Mauro Leite

18.4.06

tic tac high speed

E você quer gritar, chorar, correr talvez. E todos gritam que você tenha calma, pois não está na idade de sofrer por estas coisas. Mas o tempo voa, como sua imaginação, ele tem vontade própria.
Se bem que você até queria parar os relógios e ficar em stand by, mas você precisa correr, como o coelho de Alice, como Forrest Gump... correr para algum lugar que nem você sabe onde é, só sabe que precisa ir.
E nessa vida fast, o tic tac corre em high speed.


-quem sabe somewhere over the raindbow eu encontre o pote de ouro.

FOOD FOR THOUGHT

Although you may not stumble across a Martian in the garden, you might stumble across yourself. The day that happens, you´ll probably also scream a
little.And that will be perfectly allright because it´s not every day you realise you are a living planet dweller on a little island in the universe. (Jostein
Gaarder- The Solitaire Mystery)