15.5.06

número 702...

A casa tinha um terraço enorme, do tamanho da saudade. O ar entrava, e arejava as idéias. Entrava pelos pulmões, e abria a porta da memória. O piso era um mosaico lindo, colorido e geladinho, bom para deitar-se e sonhar.
Os cômodos eram arquivos vivos de uma infância de alegrias.
Ao entrar na cozinha, os aromas e sabores deram água na boca.
E tudo fazia parte de um passado tão presente...
A lágrima escorreu.

7.5.06

textura

textura.


Eles voltaram pra casa emudecidos, ensimesmados, envoltos em pensamentos perdidos na noite.
Havia ali uma cumplicidade cega, uma amizade silenciosa, um amor tão puro e claro...
Como se já se conhecessem desde sempre, como se já fizessem parte de um mesmo todo, completos.
E era como se o outro fosse parte essencial, intrisecamente ligados por um fio que apesar de ser invisível, era palpável, vivenciado.
Ela disse baixinho em algum momento, como se balbuciasse :
-Deixe-me contar tuas estrelas...
Ele sorriu, complacentemente.
E deram as mãos. E se o mundo acabasse ali, naquele instante, a melhor lembrança seria aquele sorriso.
E não se preocupa, a pureza está no coração.
E a colcha de retalhos vai sendo construída, com linhas firmes.
Qual será a textura dela, no final? Quando se poderá então, proteger-se do frio do mundo com ela?
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"Da complexidade do meu ser
Deparei-me no teu olhar
Apossei-me de tua mente
E pus-me a pensar.
Pensei em mim,
E em você pude enxergar.
Vi o mundo de outra forma
E os problemas deixei pra lá.

Quis voltar ao meu cantinho
Mas tive medo daquele lugar
Onde tudo era pacífico, calmo, tranqüilo
Mas era lá o meu lar.

Encorajei-me e resolvi voltar
Deixei sua mente, seu corpo, seu olhar,
E quando olhei para ti
Espantei-me com o que vi:

Você havia também mudado
Era outro o seu pensar
E descobri naquele instante
Que nada é eterno e tudo vive a transformar.

Nem os pensamentos, nem os sonhos
Nem a guerra, nem a paz.
Somos complementos. Somos sementes a germinar
Temos o presente e o futuro e nada enfim, a eternizar..."


[ Valéria Caetano ]

5.5.06

alguma coisa sobre mim

Análise sintática (sintética), morfológica e de sintaxe do objeto (abjeto) EU.

Eu. primeira pessoa. do singular. (ou do plural, visto que existe uma infinita possibilidade de "eus" em um único "eu"). subjetiva.
Uma, artigo indefinido, feminino.
Eu, monossílaba. Monossilábica porventura, monocromática sazonalmente.
Ditongo que deveria ser hiato.
Me, mi,comigo. Pronomes relacionados ao eu.
Eu, indivíduo. Pessoa.
Eu. com possibilidade de tornar-me nós.
eu, vanessa.
20 anos de sonhos e planos.



(pra não perder o fio da meada, posto aqui.)

Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)
Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

3.5.06

é cedo.eu cedo.todos cedem

engraçado que quando aparentemente você não tem nada pra dizer, é aí que você está transbordando de pensamentos.

[retalhos]

vez por outra ela sente falta dela. das risadas, das besteiras, das imagens. manifesto à saudade.sinto falta. será que alguem se acostuma com o não ter, não saber?
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ele parecia perfeitamente encantado na ambiguidade da palavra.era a pessoa perfeita.era a sinestesia que chegava pra confundir, era a calma, era o sorriso só pra você. era quem entendia, atendia.e estava ali, do meu lado, tentando de tudo para que eu desse um sorriso, mesmo que fosse meia boca.
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Prosa de um Poema-Imagem-Implícito

O Bôgo...pode ser eu,tu,eles,nós..espectadores de sua história, que acaba virando espelho da nossa.Vendo um e outro mascarado ir e vir.Pessoas sintéticas.Fake a lot.Esses disfarces débeis e caricatos,que acabam caindo do rosto, indo ao chão,escorrendo,feito uma maquiagem mal-feita que tenta esconder alguma imperfeição maior.
Aí a gente se dá conta de quão "feias" as pessoas realmente são,carregadas de egoísmo,e de uma falta de personalidade,que inevitavelmente,deixará à mostra toda sua hipocrisia disfarçada.
E depois,a gente dança conforme a música,nesse pseudo bailinho de máscaras.
E acaba se acostumando(ou seria acomodando?seria rima,mas não seria solução.touché).
E lançamos nosso melhor sorriso amarelo,cheio de indiferença,automático,levado muitas vezes por bons modos.
E aos poucos você percebe que a criticidade demasiada te deixa um pouco azedo.
Mas Bôgo tem um happy end.
Com a bonequinha de corda ou não,mas teve.
Isso basta?


(resenha para uma animação em flash de um amigo).

FOOD FOR THOUGHT

Although you may not stumble across a Martian in the garden, you might stumble across yourself. The day that happens, you´ll probably also scream a
little.And that will be perfectly allright because it´s not every day you realise you are a living planet dweller on a little island in the universe. (Jostein
Gaarder- The Solitaire Mystery)